terça-feira, 11 de março de 2008

Carpe Diem

Nesse dia, 22 de Agosto, decidimos ir à praia de Nossa Senhora, lá na nossa querida Zambujeira do Mar. Tudo corria perfeitamente, o sol brilhava e queimava, os miúdos brincavam na areia e com as ondas do mar. Lembro-me de um comentário que fizeram o meu marido e o nosso amigo Kliford acerca de três jovens que estavam a fazer megulho. Eles achavam que o mar não estava para isso, não havia condições, a maré estava a subir. -"Será que estão doidos?", disseram.

Algum tempo depois disto, percebi que alguma coisa não estava a correr bem. Nas rochas onde mergulhavam os três jovens amontoava-se um grupo de pessoas que olhavam para o mar. Um dos três jovens mergulhadores não saia da água. Já tinha passado meia hora, se calhar uma hora, e não sabiam nada dele. Eu estive o tempo todo a olhar para o mar ao pé da namorada de João Pedro, que era o nome do desaparecido. Vieram a polícia marítima, os bombeiros, equipas médicas, mergulhadores profissionais, um helicóptero e até a televisão.

Depois de duas horas, dois mergulhadores saíram da água com o corpo do jovem de 23 anos. O meu marido e um amigo tiveram de ajudar, pois era um homem alto e forte. Na fotografia pode ver-se como subiram o corpo do jovem lisboeta pela escada íngreme. Foi terrível. Quase não falámos entre nós do acontecido. Ainda não posso acreditar como é que uma vida se perde assim ao pé de nós, enquanto os miúdos estão a brincar e eu a apanhar sol.

Nesse mesmo dia, à noite, na praça da aldeia havia música ao vivo e dançámos todos, rimos, tentámos ser felizes, gostarmos da vida... porque tínhamos visto a morte muito perto de nós.


Texto e fotografia de Alicia Plá Benítez (5º Ano)

3 comentários:

José Ignacio disse...

Alicia, muito obrigado por nos lembrares quão frágeis somos. Arrepiante.

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O ALENTEJO MAGAZINE noticiava a morte do jovem na seguinte crónica:


Um homem de 24 anos morreu, ontem à tarde, na Praia de Nossa Senhora, junto à Zambujeira do Mar (Odemira), onde se encontrava a fazer caça submarina, revelou à agência Lusa o capitão do Porto de Sines.

O jovem, residente em Lisboa, estava dentro de água, “com um grupo de amigos, devidamente equipado com o fato de mergulho, quando pediu socorro aos companheiros”, adiantou Guilherme Marques Ferreira.

Pouco depois, perto das 16:00, o mergulhador desapareceu, momento em que foi dado o alerta à Polícia Marítima (PM) e Bombeiros Voluntários de Odemira (BVO).

“Accionámos os meios de socorro, entre os quais um helicóptero Alouette III da Força Aérea Portuguesa (FAP), duas lanchas salva-vidas e uma mota de salvamento marítimo do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN)”, disse Marques Ferreira.

A Praia de Nossa Senhora fica situada a Norte da Zambujeira do Mar e não é vigiada, frisou a mesma fonte.

A vítima acabaria por ser avistada junto a umas rochas, “a pouca profundidade”, tendo sido retirada da água por nadadores salvadores da Associação Resgate, às 17:15.

De acordo com António Mestre, coordenador da Associação de Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano, o jovem “encontrava-se preso nas rochas a 1,5 a 2 metros de profundidade, de onde foi retirado já sem vida”.

No local, esteve ainda, de acordo com o comandante dos BVO, Nazário Viana, uma viatura do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), cujo clínico confirmou a morte da vítima.

O corpo do mergulhador foi depois transportado para a morgue do Hospital do Litoral Alentejano (HLA), em Santiago do Cacém.

Anónimo disse...

Estou a dar uma vista de olhos antes de sair para a minha viagem e escontrar no blog o texto da alicia é para mim muito emocionante.
Todo meu amor para a minha querida Alicia

Anónimo disse...

A vida é, como a capoeira : luta, jogo, é um duelo com o adversário.
Porém o adversário debe ser“camarada” e nós temos de fazer deste combate uma arte.

E,a arte de bem-viver teria de ser uma simbiose perfeita
com a conciência de o seu adversário (o fim , a morte) estar lá, seguro,certo de chegar.
Por isso o milagre de ver a luz cada dia é uma prenda para ser saboreiada, restando importância a esses "grandes"-pequenos incómodos quotidianos.
Carpe diem!